

VENDEDOR - Bom dia, minha senhora. Em que posso ajudá-la?
SENHORA - Vejamos…vejamos…dê-me…dois quilos de livros…
VENDEDOR - Como disse?
SENHORA - Não, melhor três quilos.
VENDEDOR - Três quilos de quê?
SENHORA - De livros, senhor. Livros. Não sabe o que é um livro? Para ler…
VENDEDOR - Sim, mas…
SENHORA - E me dê também… dez metros, não, melhor 15 metros de filmes…
VENDEDOR- De filmes?!
SENHORA - De filmes, sim senhor. Ou tão pouco sabe o que são filmes? Filmes de cinema. Se tem de televisão também, mas esses vendem – se por peso, não?
VENDEDOR - Mas, de que está a falar, senhora?
SENHORA - Vamos ver , vamos ver, que me falta?… Música!... O senhor tem dessas latinhas vermelhas que trazem uma dúzia de canções?... Ah, e já me estava a esquecer… Dê-me também um frasquinho de teatro. Vendem em pó, não é verdade?
VENDEDOR - Um momento, um momento, senhora. Não me continue a gozar que eu já tenho cabelos brancos.
SENHORA - Ninguém está a gozar consigo, meu senhor. Eu quero comprar.
VENDEDOR - Comprar o quê ? Deus e todos os santos me ajudem...
SENHORA - Comprar cultura. Teatro, cinema, literatura...
VENDEDOR - Mas, minha senhora, essas coisas…
SENHORA - O senhor não vende arroz, tomates, sabão…
VENDEDOR - Mas, senhora, a cultura não é um tomate. Não é uma mercadoria.
SENHORA - Ah, não? E quem disse que não, pode-se saber?
UNESCO - Nós dizemos que não!
(APLAUSOS)
LOCUTOR - Durante a última Conferência Geral da UNESCO, em Paris, foi aprovada uma Convenção sobre Protecção da Diversidade Cultural e as Expressões Artísticas.
LOCUTORA - Dos 151 países membros da UNESCO presentes na sala, quase todos votaram a favor.
(APLAUSOS)
LOCUTOR - Só dois países votaram contra. Só dois. Adivinhe quais são.
ARTISTA - Dois países votaram contra? Impossível, alguém está contra a cultura?
LOCUTOR - Pois sim, dois países votaram contra a protecção da diversidade cultural. Adivinhe quais?
ARTISTA - Estados Unidos?
LOCUTOR - Adivinhou, caro artista. Adivinhou. Estados Unidos e Israel. Só esses dois países votaram contra.
ARTISTA - Impressionante…
LOCUTOR - Estados Unidos e Israel pensam como a senhora que quer comprar, que a cultura se compra como os tomates ou os sabonetes.
GRINGO - O mercado é o mercado.
ARTISTA - E a cultura é a cultura, mister.
GRINGO - Tudo se vende, tudo se compra.
ARTISTA - O que acontece é que vocês pensam saber o preço de tudo e o valor de nada, mas há coisas que não têm preço. A cultura de um país é uma delas.
GRINGO - E meus filmes de Hollywood?...Vou perder money!
LOCUTOR - A cultura não é uma mercadoria. Os bens culturais não podem submeter-se às leis da Organização Mundial do Comércio. Segundo a UNESCO, cada Estado é soberano para elaborar políticas culturais que defendam e promovam a sua arte, o seu idioma, o seu cinema, o seu teatro, a sua cultura…
ARTISTA - Frente ao colonialismo cultural… a diversidade cultural!
Adaptado do programa dos Radialistas Apasionados e Apasionadas: “O Preço de Tudo e o Preço de Nada”
Proposta de actividade:
Este texto radiofónico tem como base uma decisão da Unesco que dá a cada país o direito de decidir a sua própria política cultural, podendo incentivar os seus produtos culturais e dificultar a importação dos produtos estrangeiros. Os EUA votaram contra pois temem que essas políticas possam dificultar a exportação dos seus produtos de entretenimento.
1. Qual a razão da dificuldade de comunicação entre o vendedor e a compradora?
2. Neste texto estão presentes duas formas diferentes de entender a cultura e a sua relação com a economia. Identifique-as.
3. Qual das posições presentes se identifica mais com a sua visão da cultura?
4. Parece-lhe que o estado deve intervir de forma activa na produção cultural do país, subsidiando eventos ou investindo num serviço público televisivo em prol da cultura, ou pelo contrário deve ser apenas o público que consome a pagar as despesas?
5. Tomando com referência um qualquer livro que tenha comprado, por exemplo, o livro do conhecido jornalista José Rodrigues dos Santos “O Sétimo Selo” cujo custo de venda ao público é de 22 €, tendo em conta o número de horas despendido na escrita do livro, o número de intervenientes desde a sua escrita até à sua venda, os gastos na promoção, divulgação e distribuição do mesmo pelo país, faça uma pequena reflexão em que refira se o valor do livro é justo.
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