segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A civilização da terceira vaga



Uma colisão de vagas



Está a emergir na nossa vida uma nova civilização e por toda a parte há cegos que tentam suprimi-la. Esta nova civilização traz consigo novos estilos de família; modos modificados de trabalhar, amar e viver; uma nova economia; novos conflitos políticos, e além de tudo isso também uma percepção modificada. Existem hoje partes dessa nova civilização. Milhões já estão a sintonizar a sua vida com os ritmos de amanhã. Outros aterrorizados com o futuro, entregam-se a uma desesperada e inútil fuga para o passado e tentam restaurar o mundo moribundo que lhes deu vida.
A aurora desta nova civilização é o facto isolado mais explosivo da nossa época. É o acontecimento fulcral, a chave para a compreensão dos anos imediatamente a seguir. É um acontecimento tão profundo como o da Primeira Vaga de mudança desencadeada há dez mil anos pela invenção da agricultura, ou pela avassaladora Segunda Vaga de mudança iniciada pela Revolução Industrial. Nós somos os filhos da próxima transformação, a Terceira Vaga. Procuramos palavras que descrevam toda a força e todo o alcance desta extraordinária mudança. Alguns falam do assomar de uma Era Espacial, de uma ERA Informacional, de uma ERA Electrónica ou de uma Aldeia Global. Zbigniem Brzezinski disse-nos que enfrentamos uma “era tecnotrónica”. O sociólogo Daniel Bell descreve o advento de uma “sociedade pós-industrial”. Os futurólogos soviéticos falam de R.T.C. – “revolução científico-tecnológica”. Eu próprio escrevi extensivamente acerca da vinda de uma “sociedade superindustrial”. No entanto, nenhum destes termos, incluindo o meu, é adequado.
Algumas destas frases, ao enfocarem num único factor, estreitam, ao invés de dilatarem, a nossa compreensão. Outras são estáticas, dão a entender que uma nova sociedade pode entrar na nossa vida suavemente, sem conflito nem tensão. Nenhum destes termos começa sequer a revelar toda a força, todo o âmbito e todo o dinamismo das mudanças que avançam impetuosamente para nós nem das pressões e dos conflitos que desencadeiam.
A humanidade defronta-se com um salto quantum para a frente. Defronta-se com a mais profunda sublevação social e reestruturação criativa de todos os tempos. Sem o reconhecermos claramente, estamos ocupados a construir uma notável civilização nova a partir do zero. É este o significado da Terceira Vaga.
Até agora, a espécie humana suportou duas grandes vagas de mudança, cada uma delas obliterou largamente anteriores culturas ou civilizações e substituiu-as por modos de vida inconcebíveis para os que chegaram antes. A Primeira Vaga de mudança – a revolução agrária – levou milhares de anos a esgotar-se. A Segunda Vaga – a ascensão da civilização industrial – levou meros trezentos anos. Hoje a história é ainda mais acelerativa e é provável que a Terceira Vaga a assole e se complete em poucas décadas. Nós, os que compartilhamos o planeta neste momento explosivo, sentiremos portanto todo o impacto da Terceira Vaga no decorrer da nossa própria vida.
Desmembrando a nossa família, abalando a nossa economia, paralisando os nossos sistemas fiscais e destruindo os nossos valores, a Terceira Vaga afecta toda a gente. Desafia todas as relações de poder e os privilégios e as prerrogativas das actuais elites em perigo, e fornece o pano de fundo contra o qual se travarão as lutas-chave pelo poder de amanhã.
Muita desta civilização emergente contradiz a antiga civilização industrial tradicional. É, simultaneamente, muitíssimo tecnológica e anti-industrial.
A Terceira Vaga traz consigo um modo genuinamente novo baseado em fontes de energia renováveis e diversificadas; em métodos de produção que tornam absoleta a maioria das linhas de montagem; em famílias novas e não-nucleares; numa nova instituição que pode chamar-se “chalé electrónico”, e nas radicalmente modificadas escolas e corporações do futuro. A civilização emergente escreve, para nós, um novo código de comportamento e leva-nos para além da estandardização, da sincronização e da centralização, para além da concentração de energia, dinheiro e poder.
Esta nova civilização, ao desafiar a antiga, derribará burocracias, reduzirá o papel do estado-nação e originará economias semiautónomas num mundo pós-imperialista. Requer governos mais simples, mais eficazes e, todavia, mais democráticos do que quaisquer que hoje conhecemos. É uma civilização com a sua própria e característica perspectiva do mundo, com as suas maneiras próprias de lidar com o tempo, o espaço, a lógica e a causalidade.
Sobretudo, (…) a civilização da terceira Vaga começa a colmatar a brecha histórica entre produtor e consumidor, dando origem à economia “produsumidora” de amanhã. Por esta razão, entre muitas, poderia – com alguma ajuda inteligente da nossa parte – vir a ser a primeira civilização verdadeiramente humana da História.
Alvin Toffler, A Terceira Vaga, Ed. Livros do Brasil, 1999

Proposta de actividade:

1. Perante a nova civilização que está a emergir, Alvin Toffler aponta duas reacções visíveis. Identifica-as.

2. “Nós somos os filhos da próxima transformação, a Terceira Vaga.”
2.1. Faz o levantamento dos diversos termos propostos para designar o fenómeno a que o autor chama Terceira Vaga.

2.2. Explica por que razão o autor considera que nenhum deles é adequado.

2.3. Evidencia as principais características desta Terceira Vaga.
CLC 2009/2010
As formadoras

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