Os tempos actuais são marcados por múltiplas controvérsias em torno da ciência e das suas implicações sobre a sociedade e o ambiente. Estas controvérsias podem ser suscitadas: a) por implicações sociais, morais ou religiosas duma teoria ou de uma prática científica ou tecnológica (por exemplo, a clonagem, a utilização de células embrionárias e a modificação genética de seres vivos); ou b) por tensões sociais entre direitos individuais e objectivos sociais, prioridades políticas e valores ambientais, interesses económicos e preocupações relativamente à saúde resultantes de aplicações tecnológicas (por exemplo, a construção de barragens, os transvazes entre rios, a co-incineração de resíduos tóxicos em cimenteiras e a localização dos aterros sanitários). Frequentemente, estas controvérsias podem ser designadas por controvérsias sócio-ambientais (designação que reforça as implicações da ciência e da tecnologia sobre a sociedade e o ambiente) ou por controvérsias sociocientíficas (designação que se refere de forma geral às questões sociais suscitadas por avanços científicos e tecnológicos).
Uma questão é definida como controversa se as pessoas se encontram divididas sobre ela e se envolve juízos de valor que impossibilitam a sua resolução apenas através da análise das evidências ou da experiência. Um assunto controverso não pode ser resolvido apenas recorrendo a factos, dados empíricos ou vivências na medida em que envolve tanto factos como questões de valor. Por outro lado, um assunto só poderá ser classificado de controverso se também for considerado importante por um número considerável de pessoas.
Existem controvérsias em todas as áreas do pensamento humano – na ciência, na história, na arte, na economia, na política, na teologia. No entanto, a forma como cada uma destas áreas de pensamento é representada no currículo escolar nem sempre traduz a sua natureza controversa. Muitos professores de ciências reconhecem a ciência como um campo de controvérsias (tanto científicas – disputas académicas suscitadas, por exemplo, pela apresentação de diferentes propostas explicativas do mesmo fenómeno – como sociocientíficas e sócio-ambientais – acerca das implicações sociais da ciência), que evolui e se desenvolve através de conjectura e especulação, alimentadas pela própria controvérsia. Contudo, a ciência académica: a) é frequentemente apresentada como não-problemática, livre de valores e não-controversa, proporcionando uma imagem completamente distorcida do empreendimento científico e das suas relações com a tecnologia, a sociedade e o ambiente; e b) recorre pouco à controvérsia como forma de promover o desenvolvimento de capacidades e atitudes consideradas importantes para a cidadania.
REIS, Pedro; GALVÃO, Cecília. Controvérsias sócio-científicas e prática pedagógica de jovens professores. Investigações em Ensino de Ciências, Instituto de Física, UFRGS. Vol. 10, N. 2, Junho de 2005. Disponível em http://nonio.eses.pt/interaccoes/artigos/D0.pdf
Consultado em 17 de Janeiro de 2010
Proposta de actividade:
1. Mostre, segundo o texto, o que pode suscitar controvérsia na sociedade.
2. Identifique como se designam habitualmente as controvérsias em torno da ciência.
3. A partir do texto, defina de modo abrangente o conceito de controvérsia.
4. Apresente alguns das questões/temas actuais considerados controversos.
5. Comenta a afirmação: “a ciência é, frequentemente, descrita como não controversa, neutra, desinteressada, altruísta”, tendo em atenção a afirmação sublinhada no texto.
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